A sensibilidade austera do social

Não eram recados para Sócrates, mas algo me diz que os olheiros do PM devem ter escutado com atenção Constança Cunha e Sá, no telejornal da TVI: “Manuela Ferreira Leite provou que é possível ganhar eleições sem prometer nada e sem ter ideias sobre o que fazer”.
E depois, mais à frente: “A sensibilidade social que mostrou não foi só para atenuar a sua imagem de dama de ferro, é uma corrente que existe no seio da social-democracia”.
Assim, de repente, o vazio político do centrão parece estar condenado a entrar numa nova fase, a da sensibilidade austera do social: lágrimas graves sobre dossiers que dizem a impotência das soluções e o gigantismo dos problemas. O que por acaso (é mesmo por acaso, mas já agora aproveito a licença poética), me faz lembrar uns versos de Cesariny: “São criaturas, é verdade, calcule-se, / gente sensível e às vezes boa / mas tão recomplicada, tão bielo-cosida, tão ininteligível / que já conseguem chorar, com certa sinceridade, / lágrimas cem por cento hipócritas.” [louvor e simplificação de álvaro de campos]

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