Pequena teoria da literatura para uso doméstico # 1

Vamos começar por uma adivinha, pode ser? Descubram lá a autoria do texto aí em baixo. Quem gostaria de escrever os seus livros em hotéis de luxo?
O Manchas adianta umas dicas, para restringir “pedagogicamente” o derrame das respostas possíveis: estamos a falar de uma ou um escritor português do século XX/XXI. Leitores e/ou blogueiros do costume, têm uma semana para perorar sobre o assunto.

Eu gostaria de escrever os meus livros em quartos de hotéis de luxo. Este mesmo comecei-o a escrever num desses hotéis, num sétimo andar alcatifado, algo tenebroso como os casinos clandestinos, com luzes abafadas em cores densas, com passos abafados, um súbito deslize dum trinco, um cartaz pendurado no fecho da porta pedindo café e torradas. O doméstico é eliminado, fuzilado às seis da tarde nos corredores quentes e silenciosos. Não pronunciam o nosso nome, a impersonalidade reina no quarto onde gela a água num frigorífico que parece um cofre, tem uma chave, como um cofre. Sobe das avenidas um ruído apagado, quase doce, e que pode ser um comício que passa, ameaçador e delirante. Mas ali, ele parece um murmúrio de velhas num templo. Não há livros à vista, só uma Bíblia bilingue e a lista dos telefones.


Imagem: o corredor do hotel de Barton Fink, dos irmãos Coen

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