O Partido Socialista, tendo reunido em plenário de militantes, decidiu impor disciplina estratégica e não participar nas operações que amanhã conduzirão à Revolução do 25 de Abril. Embora a maioria dos militantes não estivesse presente — o que se compreende porque os tempos são de crise e é preciso cuidar dos dinheiros tóxicos —, a maioria dos presentes decidiu acatar a ordem da direcção e vai-se pôr à margem dos acontecimentos revolucionários. Como sublinhou um destacado membro da direcção, o partido até concorda que se deve acabar com o fascismo e instaurar a democracia e a igualdade, mas agora não dá muito jeito, dada a urgência da crise financeira. Outro militante desdramatizou a situação: «Se o povo aguentou quarenta e oito anos, não é por mais um ano ou dois que as coisas vão ficar muito piores. E daqui por um ano ou dois acho que já conseguiremos ter definido todas as operações necessárias para fazer um 25 de Abril liderado por nós. Não nos esqueçamos que o assunto é muito complexo e fracturante. Além de exigir uma grande logística, coisa agora difícil atendendo à crise no imobiliário”. Apesar de ter decidido impor a disciplina estratégica, o Partido abriu excepção para os militantes com mais de oitenta anos: “Os militantes mais antigos vão poder juntar-se à revolução. Achamos que era demasiado cruel privá-los deste acontecimento com que sonham há tanto tempo. Atendendo à idade, pode ser a sua última oportunidade de verem a luz da liberdade. Fica assim mais uma vez demonstrado que o Partido Socialista é um partido plural e sensível.”
Partido plural e sensível
Luís Mourão
3.10.08 |
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