Com a turma de mestrado, falamos longamente acerca das possibilidades de autoria deste texto:
Alcançamos, seguindo uma via de silêncio mútuo, o cimo de uma ladeira onde, além de podermos ver, debruçados numa ponte, as linhas férreas por onde seguiam andorinhas, vislumbrávamos as linhas curvas da paisagem que ensinam os olhos e libertam, sem palavras, os soluços da garganta.
Ninguém acertou, o que foi bom, porque assim o debate foi muito produtivo. As hipóteses mais interessantes foram estas:
1. Algures entre um epígono de Eça e um Eça muito melhorado, ou que tivesse com a paisagem uma relação metafísica “naturalizada”, quer dizer, sem necessidade de sublinhar o sublime, incorporando-o apenas como reacção natural e quotidiana.
2. Neste sentido, poderia ser um texto de um Vergílio Ferreira com o pathos controlado, embora o encaixe sintáctico seja substancialmente diferente do seu modo nervoso de escrita.
3. A hipótese que mais agradou foi a de que se tratará de um texto recentemente encontrado na arca pessoana, atribuído a um novo heterónimo.
4. Finalmente, causou uma viva estranheza o facto de as ligações dentro do parágrafo terem o acerto pesado de uma redacção de quarta classe — aquele “onde” magoa mesmo o ritmo — e o que está a ser dito ter a gravidade da mais funda sabedoria.
Publicarei de novo o texto amanhã, de um modo que tornará a sua identificação quase imediata.
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