Acordo ortográfico

Um leitor devidamente identificado acha que eu devia ter opinião sobre o acordo ortográfico. Acontece que não tenho. Nem me preocupo minimamente em ter. Há coisas que tanto se me dá, e essa é uma delas. O leitor devidamente identificado acho que eu devia ter uma opinião sobre o acordo ortográfico porque isso vai afectar a literatura, o modo de escrever, etc. Sobre isso, sim, tenho uma opinião, melhor, uma certeza: não vai afectar coisa nenhuma. Afecta a norma, mas a literatura está muito depois da norma, tão depois da norma que pouco se lhe dá que a norma seja esta ou outra qualquer. Mas eu sou o tipo de crítico que acha que um conceito como literatura portuguesa (ou literatura de qualquer outra nacionalidade), embora tenha a sua utilidade, não chega realmente para aceder ao essencial. Que quando toca a falar de um autor que merece esse nome, o melhor a fazer é considerá-lo como toda uma literatura que nasce e morre com ele. E dentro dessa literatura, uma língua (menor, apátrida, marginal: a língua de Vergílio Ferreira é uma, a de Llansol outra, a de Lobo Antunes outra ainda, etc). Sim, eu sei que há aqui algumas ressalvas a fazer. E faço-as. Mas são apenas isso: ressalvas.

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