Exemplar número três

Se isto fosse uma história, haveria uma cidade que se visita por uma temporada relativamente longa. De cada vez que lá chegamos vamos alojar-nos num bairro diferente, tentando perceber e sentir mais um pouco da vida que ali se desenrola. Estudar um livro não é muito diferente de visitar mais ou menos longamente uma cidade que não é a nossa morada habitual [ah, mas qual será a cidade habitual de quem vive de estudar livros?..]. Muda-se de bairro para mudar o que se vê, donde se vê, os itinerários — enfim, isso com que se vão esboçando sentidos. Também pode acontecer voltarmos às mesmas casas e ambientes, para que algum tempo depois possamos confrontar a memória, o aprendido, com o que terá mudado ou se terá desocultado.
Partirei para Finisterra para uma terceira estadia. Seis anos depois do último encontro. Não sei ainda em que bairro me instalarei. Não sei exactamente o que espero encontrar. Única bagagem: um exemplar novinho em folha e um lápis. Eu sei que não há mais começos. Eu sei que não há concepção imaculada da leitura. Mas cada um faz o que pode para merecer continuar a ler.

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