Neste vai e vem sem lugar para grandes desígnios históricos joga-se ainda a sorte de uma geração. O que há de político na consciência de se ter uma determinada idade, isto é, de se ser geração, é que os gestos individuais ganham o estatuto de exemplo – mesmo quando o denegam com unhas e dentes. O que até não é o caso no poema que se segue, que abre com o programa mais comum que as gerações se auto-atribuem:
ASSALTO
Quando decidimos tomar o mundo de assalto
não sabíamos nada um do outro
e as ramagens das árvores
quase tocavam a tua janela.
Quando desistimos de tomar o mundo de assalto
Não falámos disso
e ouvimos discos de 33 rotações.
Nunca começámos do chão
e agora é tarde.
A erva cresce depressa
e em breve
é muito alta.
(p. 38)
O que há neste poema de politicamente caracterizador do tempo presente é que nada se sabe das razões que levaram à desistência de tomar o mundo de assalto. Mas nada se sabe por deliberadamente nada se falar, o que é aceitação do preço do fantasma. No resto, paga-se tributo a uma difusa ideia de perfeição inalcançável, o que politicamente se pode dizer que emerge de qualquer um dos quadrantes. O fantasma é também isso: o que conduz o político ao lugar onde as coisas falham prosaicamente, porque parecem sucumbir ao movimento da natureza. Não o movimento da natureza enquanto teleologia possível ou verdade natural, mas o simples crescer da erva que em breve é muito alta. Dito de outra forma: “De manhã não vencerei.” (p. 67).
Senhor Fantasma # 5. Política, assalto, erva
Luís Mourão
27.9.07 |
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