Como problema de tradução, e movimento de transporte dentro desse problema, Senhor Fantasma deixa-nos em terra de ninguém, tendo andado embora por caminhos supostamente conhecidos. Não é aventura única na poesia portuguesa mais recente, mas é a que menos cede a estruturas já codificadas de disforia. E a que nos deixa uma reserva de inteligência e de emoções poéticas cuja lucidez e ironia, a um tempo implacável, agónica e salutar, nos dá maior entendimento do mundo que nos calhou. Numa leitura apressada, alguns destes versos podem ser lidos como variação dos “desertos que crescem”, com as suas implicações de espírito blasé e de teatro interior mansamente pós-apocalíptico: “Nada disse nada. / Porém tornou-se terra estéril / o espaço entre a flor / e a pedra.” (p. 27). Mas é necessário que não nos esqueçamos do cavalo, o que põe em marcha o que não pode ser dito, o que se pressupõe capaz de ir para lá de terra estéril, flor e pedra. A cada geração seu cavalo, andamento e trote. Há aí uma história para contar, por exemplo a que vai de um certo "cavalo verde" de António Ramos Rosa até ao "cavalo isto" que aqui entrevemos. Mas são coisas para outros senhores fantasmas.
Senhor Fantasma # 6. Geração, epílogo
Luís Mourão
27.9.07 |
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