Multiplex 29

Climas, de Nuri Bilge Ceylan


- As saudades que tinha deste cinema, Leitora.
- Mas se tinhas saudades, é porque já houve este cinema. E isso é talvez mau para um filme de hoje, ver-se nele as saudades do cinema que já houve.
- Não é bem ver nele o que já houve, embora Antonioni nos ocorra muitas vezes. É sobretudo uma opção radical por um certo modo de fazer cinema. História minimal, embora razoavelmente identificável. Intensidade dos actores, da emoção dos seus corpos, dos seus rostos, dos seus gestos. Significação extrema da paisagem, a física e a urbana. E nós termos de preencher os espaços vazios com a matéria da nossa própria existência.
- E como foi?
- Como foi o quê?
- Como foi preencher os espaços vazios com a matéria da tua própria existência?
- Isso seria uma outra conversa, Leitora. Havemos de tê-la, mas não agora.
- E de quem gostaste mais, dele ou dela?
- Gostei da tristeza e do desespero de ambos. Gostei da sobrevivência de ambos.
- Mas no fundo, de quem gostaste mais? Qual deles és mais tu?
- Boa tentativa, Leitora...

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