O culpado, disse ele, dando-lhe o cd que ela pôs a tocar no portátil. Sorriram ambos. Depois ele foi para a casa de banho, mas a música sobrepunha-se à agua do chuveiro. Ela ia passando as imagens da sua pequena máquina digital. Desde a saída do restaurante todos os passos estavam registados, como se tivessem entrado num outro tempo. O que sabiam um do outro era recontado a grande velocidade, no mais recôndito da decisão que tinham tomado. Tudo tinha agora um outro sentido, e estavam a ser guiados para ele, para esse desconhecido a que não opunham resistência. Não ficaram naquele motel, decidiram-no também em silêncio. Retomaram viagem e foi a canção quem decidiu. Quando ouviu “e por vezes num segundo se evolam tantos anos”, ela disse: estes somos nós, põe outra vez. Quando a canção acabou estavam em frente de um hotel. Olharam e decidiram em silêncio. Ele beijou-lhe o ombro no elevador. Foi o primeiro beijo. Não iriam esquecer. Mas isso não precisaram de o decidir.
Paisagens possíveis # 6
Luís Mourão
12.4.07 |
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