O verdadeiro culpado, disse ela, mostrando-lhe o visor da pequena máquina digital. Riram ambos. Depois ela veio fumar para a janela. Esticava o cabelo entre dois dedos, o fumo tomava o seu tempo a sair. Ele ia passando as imagens. Desde a saída do restaurante todos os passos estavam registados, como se tivessem entrado num filme. Como se aquela história fosse de outros, eles apenas os actores contratados. A culpa fora do anúncio. Estava por baixo do menu, um folheto de viagens para o Brasil, tinha um dístico de um motel do Rio de Janeiro: “Mais vale à tarde do que nunca”. Ele riu-se, “não há como os brasileiros”, deu-lho a ler. Ela fotografou, ampliando cuidadosamente. Ele já estava a olhar pela janela, sério. Do outro lado da rua havia um motel, da mesma cadeia do restaurante, mas nenhum deles o notara até aí. Ela seguiu-lhe o olhar. Decidiram sem palavras e sem olharem um para o outro. Ele agarrou-lhe a mão que segurava a câmara, ela libertou dois dedos para apertar um dele. Já tinham decidido.
Paisagens possíveis # 5
Luís Mourão
12.4.07 |
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