Viagem em pausado cruise control, mas com duas horas de paragem forçada por despite de um pesado. Miss Laura aproveitou para se inteirar das últimas notícias sobre Chantal Sébire. Professora, 52 anos, mãe de três filhos, sofre há oito anos de neuroblastoma olfactivo, um tumor degenerativo raro (200 casos registados no mundo em 20 anos), incurável, que ocorre na cavidade nasal e vai deformando o seu rosto. Chantal Sébire já está cega, já perdeu o olfacto e o paladar, e sofre de dores atrozes. Através do seu advogado, entregou ao tribunal de Dijon um pedido de suicídio assistido e apelou ao presidente Nicolas Sarkozy. Chantal Sébire trava o seu último combate. O que parece mais estranho a algumas pessoas é que Chantal Sébire, ainda perfeitamente autónoma nos seus movimentos, não resolva as coisas por si mesma. Até a Ministra da Saúde francesa, depois de muito enfaticamente recusar qualquer alteração legislativa no sentido da eutanásia, diz como quem não quer a coisa que o suicídio é um acto individual que ela respeita. Miss Laura sorri melancolicamente e eu compreendo-a bem. Chantal Sébire não quer suicidar-se, Chantal Sébire está a morrer, o que é coisa bem diferente. Chantal Sébire quer ser tratada no seu sofrimento, tem esse direito. E reclama o direito a definir, segundo os seus termos e convicções, a fronteira a partir da qual o seu sofrimento não faz mais qualquer sentido para si mesma.
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Driving Miss Laura # 1
Luís Mourão
15.3.08 |
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