Também pode acontecer que Fausto, já investido dos novos poderes que o pacto diabólico lhe outorgou, tenha escolhido Margarida porque a amava deveras. Se um jovem não confia nos estritos poderes da ciência e por isso pactua, bem menos razões terá para confiar que os desejos do seu coração sejam correspondidos por uma coisa tão lábil quanto um ser humano (e sublinhem que eu não digo humano e ademais mulher). A um jovem assim, quanto mais ama mais lhe parece impossível a concretização desse amor, e Fausto era seguramente um jovem desses. Goethe é que não o compreendeu, e por isso Margarida em nada interfere no confronto posterior entre Fausto e Mefistófeles. Goethe já tinha arrumado o amor com o jovem Werther, pensava-se livre para o confronto desassombrado com o conhecimento. Fausto poderia ter ensinado Goethe sobre os limites do amor, com o que talvez tivesse antecipado alguns lances que Cronenberg inscreve em A mosca, essa sim uma verdadeira história de amor a expensas do conhecimento. Mas creio que Goethe era demasiado orgulhoso para se deixar ensinar por uma personagem masculina, o que é dizer que se detestava em demasia para aprender com as suas humilhações reais, preferia o desvio da autobiografia interposta e idealizante. Isto em nada diminui o seu génio, e esse é o maior mistério.
esboço # 12 [Fausto, uma ressalva]
Luís Mourão
20.8.08 |
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