A criança tem a intuição livre e perversa do jogo do mundo, desde que o imediato da sua sobrevivência não esteja em causa. É vê-la como constrói na areia da praia, como conjuga o cálculo firme do arquitecto, as mãos práticas do fazedor e o espírito gozoso e cruel de um deus antiquíssimo— ela sabe e deseja a onda destruidora que tudo varrerá, sem esse lance derradeiro a sua brincadeira não se dará por terminada e a birra é certa. É o adulto, vergado ao dever de protecção e que esqueceu já as delícias e a impertinência de não ter futuro próprio, quem recomenda mais uns muros em volta do castelo e um túnel que desvie o ataque das ondas. Não há nada de idílico nas brincadeiras entre crianças e adultos a não ser que os adultos se esqueçam de si mesmos — coisa que, bem o sabemos, tem perigos demasiados para ser recomendável.
esboço # 14 [construções na areia]
Luís Mourão
22.8.08 |
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