- Tu já viste as horas? Não é normal eu estar a dormir a estas horas. E porque demoraste tanto? És o meu anjo da guarda, devias ter vindo logo.
- Questão de fusos horários, Luís. Tirando situações absolutamente excepcionais, estas horas não te pertencem.
- Mas esta situação é excepcional. Por isso vieste, mas devias ter vindo mais cedo.
- Não, não é excepcional. E foi só isso que te vim dizer. Acorda e vai trabalhar. Faz como se tudo dependesse da tua vontade, mas espera como se nada dependesse de ti. O resto virá. Sem se fazer anunciar, imperceptível, totalmente gratuito. Mas tu saberás que é isso. Ou aprenderás a saber. Agora vai.
- Mas espera, espera um pouco. Haverá sinais? E se tiver de decidir, como saber se me estou a desviar do encontro que me estava marcado? E há um encontro marcado?
- Podes sempre fazer como o pensador, e sentares-te, de queixos na mão. Eu prefiro Nietzsche, pensava andando. Esse sabia o que era a dança. E a Graça.
- A Graça? Mas tu assististe Nietzsche?
- Sim, assisti muita gente. Mas não estou autorizado a falar disso. Apenas te falei do que é público nele: que pensava a andar. Giungerà. Agora vai. Eu, pelo menos, tenho de ir.
- Espera ainda.
- Giungerà, Luís. Giungerà. Ouve a Bartoli. E depois muda de disco, também convém. Giungerà, percebes? Giungerà...
giungerà quando nol crede il cor
Luís Mourão
6.10.06 |
0 Comments
|
This entry was posted on 6.10.06
You can follow any responses to this entry through
the RSS 2.0 feed.
You can leave a response,
or trackback from your own site.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
0 comentários:
Enviar um comentário