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Nada posso ajuizar da maioria dos prémios, apenas ouvir. Não sei se haveria coisas mais importantes na medicina ou na física para premiar, por exemplo, apenas sou capaz de reconhecer — enfim, acho que sou — que essas coisas me parecem premiáveis.
Quanto ao Nobel de literatura, não li uma linha de Pamuk. Amigos cuja opinião prezo, dividem-se drasticamente: um grande escritor, apenas um profissional competente. Mas convergem nisto: um cidadão íntegro, que não hesita em chamar a sua Turquia ao recalcado da sua história. Um Nobel de literatura, às vezes, é dado mais ao cidadão do que à literatura.
Mas o Nobel que este ano me encheu de contentamento foi para Muhammad Yunus. O microcrédito como instrumento da paz. Nada mais certo. E seja dito, nada mais ao arrepio do espírito capitalista, apesar dos discursos de que o desenvolvimento traz a paz. Que até traz. Só que os bancos apenas financiam aqueles que já têm dinheiro: o desenvolvimento é concedido aos que já são desenvolvidos.
Num único pormenor eu teria talvez feito diferente: por mim, Yunus teria sido prémio Nobel da economia. Uma forma de dizer que o espírito da coisa económica é político, sempre político, e que políticas há várias, que há escolhas. O microcrédito é uma escolha política. Uma excelente escolha política.
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