“Já notaram que, neste século, tudo se tornou mais verdadeiro, e ele mesmo mais verdadeiro? O soldado tornou-se um assassino profissional; a política, delinquência; o capital, fábrica para destruir os homens, equipada com fornos crematórios; a lei, regra de um jogo de patetas; a liberdade universal, prisão dos povos; o anti-semitismo, Auschwitz; o sentimento nacional, genocídio. O nosso tempo é um tempo de verdade, isso é inquestionável. E embora se continue, por força do hábito, a mentir, toda a gente percebe; se alguém grita: amor — todos sabem que soou a hora do crime; se é: lei — é a do roubo, da pilhagem.” (p. 57).
Uma parte do meu século XX é isto mesmo, um hegelianismo em negativo, que deixa ver o espírito do mal sem subterfúgios — a verdade pode ser um país inabitável quando por fim lá chegamos. Mas o meu pessimismo nem sequer vem daqui, desta lição mais recente de que ainda sentimos os efeitos. O meu pessimismo é ontológico, como ontológico é o meu optimismo sem bandeiras desfraldadas. Encolho os ombros à neurose e caminho sempre. A morte recolher-nos-á — mas uns quarteirões mais à frente.
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