O segredo que se mantém segredo, mesmo quando pensamos que parcialmente desvendado, torna-se exercício de cuidada ambiguidade. Como não admirar essa estratégia, a sua fina relojoaria, o modo como sucumbimos com prazer às reviravoltas ditas e às postumamente adivinhadas? (Postumamente? Curioso, muito curioso...).
Mas pouco me interessaria (ou só museologicamente, digamos assim) se, desde o princípio, esse homem que chega ao lugar do sanatório arrastado pela sua doença, não viesse para morrer: “Incrédulo, de uma incredulidade que ele próprio foi segregando com a atroz resolução de não se iludir. E, dentro da incredulidade, uma desesperação contida sem esforço, limitada espontaneamente, com pureza, à causa que a faz nascer e a alimenta, uma desesperação à qual já está acostumado, que conhece de cor.” (p. 18-19).
Conheço este homem melhor que a mim mesmo. E sei exactamente que o que há de obscuro em mim é existir ainda.
0 comentários:
Enviar um comentário