Fora de tempo # 2


Este podia ser o primeiro de uma série de contos de um McEwan maduro, uma ponte com esse McEwan inicial que desde sempre faz parte da minha biblioteca portátil. Mas McEwan aprendeu a fazer os andaimes em que segura o seu talento. É uma carpintaria irrepreensível, de beleza clássica, exímia em suspender o desenvolvimento narrativo quando já nos apanhou como qualquer criança gulosa pelo que vem a seguir. Aqui, bastava a noite de núpcias e um ou outro apontamento do passado. Não eram necessários os pais dele e os pais dela, nem a distinção de classes e meios. Não é que esteja mal, aliás nunca me deparei com nada que estivesse “mal” na ficção de McEwan. Simplesmente, nada acrescenta ou elucida sobre aquela dramática noite de núpcias e um tempo que se define por inteiro logo no início: “Eles eram jovens, licenciados, ambos virgens naquela sua noite de núpcias, e viviam numa época em que uma conversa sobre dificuldades sexuais, que nunca é fácil, era simplesmente impossível.” Um réquiem.

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