Fora de tempo # 36

 
Os lugares não são os meus, nem me reconheço na linguagem em que eles se compõem. Mas o saber está em todo o lado, e seria estupidez não aprender de novo.  
Tome-se “A Andorinha ou Tudo é Relativo”: “Da andorinha dificilmente se dirá / que é um animal feroz. Pelo contrário, / convêm-lhe adjectivos como grácil. // Mas a grácil andorinha abre / para o mosquito uma boca aterradora.” (p. 29).
Ou tome-se “Degradação”: “Toda a gente foi domingo / alguma vez. // Depois nas fezes aparecem / sinais de sangue, ou na urina. / Declaram-se abcessos, / coágulos, tumores. // Passamos então a ser uma sombria, / pesada, intransitiva / segunda-feira.” (p. 70).
São poemas que dispensam interpretação. Mas que não dispensam a execução que deles a vida fará em nós. Questão de tempo e circunstâncias, apenas.

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