Quando se descobre isto, a liberdade, sobre ser trágica e angustiante, torna-se também irrisoriamente leve (uma roleta russa obsequiosa, deferente, mas sempre irreparável):
“O eleitorado — o demos — acredita que a sua tarefa é escolher o melhor, mas na realidade a sua tarefa é muito mais simples: é ungir um homem (vox populi vox dei), não importa quem. Contar os votos pode parecer um meio de descobrir qual é a verdadeira (ou seja, a mais alta) vox populi; mas o poder da fórmula da contagem de votos, tal como o poder da fórmula do primogénito varão [na sucessão monárquica], reside no facto de ser objectiva, isenta de ambiguidades, exterior ao campo da contestação política. Atirar uma moeda ao ar seria igualmente objectivo. Igualmente isento de ambiguidades, igualmente incontestável, e poderia, por conseguinte, pretender-se igualmente bem (como já se pretendeu) que traduzisse a vox dei. Não escolhemos os nossos governantes atirando uma moeda ao ar — a moeda ao ar está associada ao jogo, uma actividade de baixa categoria —, mas quem se atreveria argumentar que o mundo estaria em pior estado do que aquele em que se encontra se os governantes tivessem sido desde o princípio dos tempos escolhidos pelo método da moeda ao ar?” (Mr. Coetzee, a páginas 22-23).
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