O Senhor Mourão ensaísta está contente com o seu ensaio em doze partes. Escrito e publicado post a post, sem poder vir atrás para emendar, acrescentar ou retirar, o Senhor Mourão elevou-se muito acima da racionalidade e da lógica mesma do ensaio. Que grande conquista a do Senhor Mourão ensaísta, que triunfo!
O Senhor Mourão pensa que o seu ensaio é homólogo da racionalidade absoluta da casa de Walser: um ensaio cujo plano coincide ponto por ponto com a sua concretização. Ou melhor dito, uma concretização ensaística que descobre post a post o plano que lhe presidia. Quantas horas de estudo e pensamento e conjectura foram assim poupadas. Ah, a felicidade da pura perfomance!
E não serão umas quantas fendas minúsculas ou anomalias lógicas que porventura se encontrem disseminadas no trabalho que perturbarão o contentamento do Senhor Mourão ensaísta. Sejamos claros sem entrar em pormenores: Mourão ensaísta tem grandes expectativas.
Certo, Mourão tem a vantagem de habitar uma outra história. Que não metendo casa, dificilmente meterá a possibilidade, mesmo que apenas ficcional, de alguém lhe bater à porta dizendo: é a torneira, está a pingar. Ou é a janela, parece que está emperrada. E assim por diante, numa soma de pequeninos problemas que, isolados, estão mesmo a pedir que não lhes demos importância demasiada, mas que colocados em contiguidade, um a seguir ao outro, irmanados na mesma aflição de serem falhas de um plano que não as deveria ter, deixam de ser uma linha de identificação de tarefas muito pragmáticas e exequíveis para parecerem uma escalada sabe-se lá com que perigos ocultos.
Em todo o caso, Mourão tem grandes expectativas. Sejamos claros sem entrar em pormenores: um ensaio não deve nada a nada. Parece que sim, mas não deve. Ponto de partida, objecto de análise, citações — tudo isso existe da mesma forma que nós existimos em sentido mais radical: fomos lançados para aqui, não foi decisão nossa, isto em que existimos é a nossa condição, não a nossa escolha. A escolha é outra coisa, como o ensaio é outra coisa que ponto de partida, objecto de análise e citações, ainda que os possa conter a todos em abundância.
Uma última vez, sejamos claros sem entrar em pormenores.
O Senhor Walser # 13. Excursus.
Luís Mourão
25.1.07 |
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