O Bairro vai-se povoando. Depois dos Senhores Valéry, Henri, Brecht, Juarroz, Kraus e Calvino, chega agora o Senhor Walser. Acontece, porém, que o Senhor Walser, talvez por analogia com o seu homónimo, é mais dado ao recato, ou à solidão das grandes caminhadas, ou talvez apenas a desafios diferentes, mais impossíveis, inevitavelmente fracassáveis, com isso se distinguindo do seu homónimo. Parafraseando — e não há muitas mais maneiras de crítica, ou há? —, “sejamos claros, sem entrar em pormenores” (p. 15): o Senhor Walser usa um nome distinto, facilmente confundível com perfomances tais que pastiche, re-escrita ou paródia, não fora o autor estar-se positivamente nas tintas para isso. Mas claro, o autor goza de prerrogativas que não são dadas aos leitores: para esses, um nome como Walser é sempre uma entrada na enciclopédia literária, não há como evitar a leitura em segundo e terceiro e restantes graus de equivocidade.
Regressando à casa (é uma frase bonita e simples, esta, e a crítica não costuma ter frases simples e bonitas), há que dizer que está “situada a uns bons quilómetros do bairro mais próximo” (p. 11). Duas consequências: para a série do Bairro, é um desvio que abre caminho à possibilidade de uma vasta urbanização, ainda que se possa dizer com verdade que o Bairro em si mesmo já contém suficientemente essa possibilidade; para o Senhor Walser, esta distância é o que nele mais se assemelha à distância a que sempre se colocou o Walser-outro, em rigor o Walser primeiro de que este Senhor é o outro. Desta segunda consequência deriva uma consequência alínea a), consabida e tortuosa: é pela semelhança que se instaura a distância crítica do autor. A distância da casa é a semelhança, a crítica vem do modo segundo o qual o Senhor Walser usa desta distância: com esta casa construída a uns bons quilómetros do bairro, o Senhor Walser espera conseguir companhia. Companhia humana em geral, toda ela altamente crítica, aliás: “argumentar, discutir grandes ou pequenas ideias, assuntos que interessassem a países ou continentes e assuntos que só interessassem à comunidade próxima, essa ânsia no fundo de um clima racional de convívio” (p. 11). E companhia feminina em particular, e de um modo particular dessa companhia feminina: “o encontrar de uma companhia definitiva” (p. 12). Neste modo segundo o qual o Senhor Walser usa da distância, a crítica do autor não se insinua apenas na companhia crítica, mas sobretudo na companhia feminina. “Sem entrar em pormenores” — sim, os pormenores seriam aqui o seu tanto obscenos, quer dizer, fora de cena —, “sem entrar em pormenores: Walser tinha grandes expectativas” (p. 15).
Mas agora, acabado o intervalo pós exercícios cardio-vasculares, é necessário enfrentar as vinte piscinas.
Regressando à casa (é uma frase bonita e simples, esta, e a crítica não costuma ter frases simples e bonitas), há que dizer que está “situada a uns bons quilómetros do bairro mais próximo” (p. 11). Duas consequências: para a série do Bairro, é um desvio que abre caminho à possibilidade de uma vasta urbanização, ainda que se possa dizer com verdade que o Bairro em si mesmo já contém suficientemente essa possibilidade; para o Senhor Walser, esta distância é o que nele mais se assemelha à distância a que sempre se colocou o Walser-outro, em rigor o Walser primeiro de que este Senhor é o outro. Desta segunda consequência deriva uma consequência alínea a), consabida e tortuosa: é pela semelhança que se instaura a distância crítica do autor. A distância da casa é a semelhança, a crítica vem do modo segundo o qual o Senhor Walser usa desta distância: com esta casa construída a uns bons quilómetros do bairro, o Senhor Walser espera conseguir companhia. Companhia humana em geral, toda ela altamente crítica, aliás: “argumentar, discutir grandes ou pequenas ideias, assuntos que interessassem a países ou continentes e assuntos que só interessassem à comunidade próxima, essa ânsia no fundo de um clima racional de convívio” (p. 11). E companhia feminina em particular, e de um modo particular dessa companhia feminina: “o encontrar de uma companhia definitiva” (p. 12). Neste modo segundo o qual o Senhor Walser usa da distância, a crítica do autor não se insinua apenas na companhia crítica, mas sobretudo na companhia feminina. “Sem entrar em pormenores” — sim, os pormenores seriam aqui o seu tanto obscenos, quer dizer, fora de cena —, “sem entrar em pormenores: Walser tinha grandes expectativas” (p. 15).
Mas agora, acabado o intervalo pós exercícios cardio-vasculares, é necessário enfrentar as vinte piscinas.
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