Poesia e teologia negativa (calma, é menos intelectual do que parece…)

Álvaro Lapa, Cadernos de Homero


Faz-se assim. No início de cada aula, lê-se um poema, ou um texto, ou ouve-se uma música, ou vê-se um quadro, qualquer coisa que as alunas possam depois comentar com um peremptório “isto não tem nada a ver”. Há quem chame a isto “motivação”. Eu chamo-lhe murro no pequenino estômago do senso-comum, mas como se vai percebendo não sou um gajo de fiar. Com o repetir do processo, algumas almas mais dadas às subtilezas do sentido começam a estabelecer as mais estranhas conexões entre tudo o que se diz e subentende e entrediz. Há quem chame a isto “estádio reflexivo” ou “idade dos problemas mal estruturados “ (sendo que os bem estruturados não interessam nada, porque precisamente deixam de constituir problema). Depois chega o dia mundial da poesia. É aí que entra o meu número de teologia negativa. Comemorar pelo contrário. Experimentar como seria a vida sem poesia. A coisa não demora muito. Não se poderia falar porque a palavra e tal, nem ver porque a imagem e assim, nem respirar porque o ritmo… Rapidamente se entra na não-vida. Claro que isto não tem nada a ver, mas a teologia negativa serve precisamente para isso. Depois a aula acaba. Mais cedo, por causa da vida re-encontrada. Que segue.

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