Nestes dias cheiro o ar, como os animais. Bichos da terra.
Era uma morte esperada na família. Depois de cinco anos de completa ausência da mente, a máquina parou por fim. Na última visita, tive de novo a certeza absoluta que jamais quererei sobreviver assim a mim mesmo. Como sei, sabíamos todos, que nunca o quis para si.
Agora há que cumprir todas as formalidades. Mesmo aquela parte de dor que, não sendo falsa, é também uma formalidade com que dizemos uns aos outros e a nós próprios o incompreensível que há em tudo isto. O incompreensível nada ou o escândalo não menos incompreensível da esperança. A ambos servem os rituais, que só na sua superfície se deixam definir de um modo ou outro.
O resto virá depois, em momentos imprevistos e sem palavras, ou com palavras de uma intimidade que o pudor apaga de ilegítimos destinatários.
Nestes dias cheiro o ar, como os animais. Bichos da terra.
O mundo de mundos
Luís Mourão
31.7.08 |
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