A Leitora, no seu infinito particular (XVI)

Álvaro Lapa, Sonhos Rumores

— Era só para saber como estava. Já sei que não gosta da pergunta, eu própria a acho o seu tanto descabida, ele há tantos mundos no mundo de uma pessoa que uma pergunta assim redonda está mesmo a pedir a resposta esfarrapada do costume, mas enfim, era só para saber se... Irra, diga qualquer coisa, Luís, seja gentil, não me deixe para aqui a falar sozinha sobre nada.
— Acho que a Leitora queria perguntar-me qualquer coisa, mas não se atreve. Não sei porquê. E não lhe vou facilitar a vida, nem pense. No resto, estou bem, obrigado. Nem vejo razões para a sua preocupação, embora lhe agradeça o cuidado.
— Hum... Li a sua revista de blogues...
— Compridita, não é? Foi um pequeno intervalo de leitura.
— Mas tem visto os blogues todos?
— Todos como? São milhares, como sabe, que é lá isso de todos? E nascem e morrem todos os dias.
— E alguns renascem.
— Esses é porque nunca morreram. Sou um ateu por crença, mas tratando-se de blogs e não de religião, acho que tenho direito a ser um velho ateu positivista. Mas a conversa está-se a desviar. Nem sei bem de quê. Ouça, não quero ser indelicado, mas pergunta ou não pergunta?
— Hum... Realmente, acho que já o conheço um bocadinho melhor, agora.
— E?..
— No fundo, o Luís sabe qual é a minha pergunta.
— Quando se começa com esses fundos profundos, chega-se a dizer não importa o quê.
— Mas sabe. Responderá quando quiser, ou quando puder.
— Permite-me que sublinhe e enfatize, Leitora, que não me fez qualquer pergunta?
— Sublinhe e enfatize à vontade, deus me livre de lhe tirar esses direitos retóricos.
— Anh, não percebi bem...
— O quê?
— Houve um espessamento na sua voz, não percebi o que disse, qualquer coisa sobre retórica, foi isso?
— Se calhar era eu a sublinhar pelo meu lado. Mas não se preocupe, não foi nada de importante. Depois conversamos.
— Ouça. (pausa) Obrigado por não ter perguntado. Cada coisa a seu tempo. E obrigado por ter ligado. Farei um pouco mais de terapia breve, tudo ficará bem. Volte às suas coisas, sim? (pausa) Estou?.. Leitora? Estou?!..
— Sim, estou aqui. Estou aqui.

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