Por exemplo

Thackeray está bem, meu caro Eduardo Pitta. Eu por mim punha mais Dostoievski, também em folhetins e tudo, mas será uma questão de sensibilidade, ou talvez nem isso, porque nada me permite presumir que tenha escolhido Thackeray acima de Dostoievski. Mas esse não é o ponto.
O ponto, por exemplo, é o senhor aí de cima. Na brisa da tarde ou à beira da piscina. Histórias bem contadas, para nos ficarmos por aí. Em português, não em jornalês ou telenovelês. E que por isso são muito mais que histórias bem contadas, como as histórias de Thackeray ou Dostoievski são mais do que histórias bem contadas.
Prefiro outros? Questões de sensibilidade, tão somente. E que merecem uma explicação mais longa, também ao meu caro João Paulo Sousa, mas que não pode ser agora. Uns e outros são poucos? Lamentavelmente, sim.
O resto, pela parte que me toca, é atribuir-me um poder e influência que de todo não tenho. Porque se tivesse, se o mundo fosse à medida dos meus desejos, alguém em português haveria de ter escrito, por exemplo, O mesmo mar, Expiação, Desgraça, Austerlitz, todo o Roth, e o Quignard, e... Acho que o Eduardo Pitta não se importaria, pois não? Ah, tivesse eu esse poder, e a ficção portuguesa contemporânea veria multiplicada por mil os melhores dos seus exemplos, uns e outros, e também aqueles que hipoteticamente desconheço ou não reconheci ainda. Sim, porque eu, quando me imagino deus, não me basta esse prazer contentinho de dizer está bem feito e aprovado, quero mais, que me surpreendam, me mostrem que a realidade é maior do que a minha imaginação, que... (corta, já não vem a propósito, regressa aos noventa romances, tens prazos).

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