Acho um péssimo sinal que o público de Cannes tenha desatado à gargalhada no momento da revelação de que ela (já nem me lembra o nome, não interessa) era a última descendente da linhagem de Jesus Cristo e Maria Madalena. Um espectador mediano destas coisas, e que não tivesse lido o livro como eu (lamento muito, sou mesmo um intelectual do carago), ao fim de vinte minutos de filme já sabia que um dos dois teria de ser o “eleito” — isto não é propriamente um filme do Malick, daqueles em que as personagens entram e saem sem darem cavaco.
Cá por mim, depois de uns risitos que consegui disfarçar aqui e ali, a gargalhada tornou-se incontrolável no momento da maça de Newton. Apanhei uns chiu enérgicos, mas desopilei.
Estas coisas irritam-me: não por serem contra-factuais, mas porque pretendem não sê-lo. Nas tintas para a Igreja Católica e a Opus Dei. O problema é que não se desconstrói qualquer aspecto da cultura a partir de estapafúrdias teorias da conspiração.
Saudades do Indiana Jones e a demanda do Graal: o simbolismo era assumido, e o fundo existencial muito aproveitável. Que há aqui? Um único momento, aliás o único em que Tom Hanks é Tom Hanks (nota-se na voz, no resto anda a ganhar dinheiro, o que também é legítimo): aquela treta americana sobre as crenças, o que importa é aquilo em que acreditas, que é suposto ser a defesa radical da multiplicidade religiosa sobre que se funda a América.
Porque fui ver o filme? Fui em trabalho, senhores. Cá na periferia do reino, a malta universitária consome estas coisas, e volta e meia elas surgem nos debates das aulas. Há que estar por dentro. Ai por aí eles também vão? Então já sabem como é. Isto de ser Professor não é só alta cultura. Sorte tem a Leitora, que se foi divertir com a Missão Impossível 3, segundo creio. Inverosímil até ao gozo, já me disseram, dá bem para ser aquela dose de tiros que se consome uma vez ao ano. Ah, se me apanho com a agenda de trabalho mais livre...
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