A Leitora, no seu infinito particular (XVII)

Não diga nada. Deixe-me acordá-lo para o dia.

São nove e trinta, hora local. Tudo no seu lugar e em impecável concórdia. No vale, a pequena ribeira na qualidade de pequena ribeira. A vereda sob a forma de vereda desde sempre e para sempre. O bosque sob o pretexto de bosque por toda a eternidade, ámen. No alto, os pássaros no papel de pássaros em voo. Até onde a vista alcança, reina o instante. Um desses instantes terrenos aos quais se pede que perdurem.
Eis o seu dia, o gomo da laranja que lhe cabe. Há mais à volta. Não tão saboroso, alguma coisa intragável. Pode ser que sim, mas também que não. E não depende só de si. O seu poder é a cesura. No fim do dia, deste que lhe ofereço em bloco, talvez tenha conseguido esculpir o instante e faça do parágrafo o poema que ele é. Da sua Wislawa, através da sua Leitora, para que exerça a cesura. A arte da interrupção como arte de viver.

0 comentários: