Coisas de partir

David Goldblatt, Casa térrea

Notável artigo de Jorge Almeida Fernandes no Público de ontem (sem link), sobre o conflito no Médio-Oriente: Para lá da Guerra. Um extracto:

«O ataque do Hezbollah na quarta-feira, com o rapto de mais dois soldados, conclui a derrapagem: o Hezbollah coloca o Hamas a seu reboque e passa a determinar a agenda palestiniana. Quem diz Hezbollah, diz Síria e Irão. Para Israel é uma ameaça letal. Por isso, Olmert falou em “acto de guerra” e não em terrorismo.
Hoje, o objectivo de Israel é recuperar o Hamas “bom”, o de Gaza, e ajudar Abbas a formar um governo de unidade entre os fundamentalistas e a Fatah, a quem voltaria a pagar os impostos. Exigirá o regresso à trégua e o fim dos rockets contra o seu território, mas não pedirá nenhuma declaração sobre o seu “direito à existência”. Se, como diz Shimon Peres, “os palestinianos nunca perdem a oportunidade de perder uma oportunidade”, Israel copia-os genialmente.»

Neste xadrez de terrível complexidade, os custos são demasiado altos e não há quaisquer garantias de que se possam recuperar os maus lances numa nova partida. Pelo contrário. Impõe-se mudar de jogo. Como dizia o meu pai acerca de algumas exigências evidentes de progresso: é tão verdade que tantas vezes vai o cântaro à fonte que acaba por lá deixar a asa, que se decidiu canalizar a água. Como democracia e como potência militar, Israel tem especiais obrigações de canalizar a água. E neste caso, a questão até tem contornos muito literais... São coisas inerentes à superioridade moral das democracias.

PS: O Luís M. Jorge transcreve, com sublinhados que eu re-sublinharia na íntegra, a também notável crónica de Mário Vargas Llosa no El Pais: Israel y los matices.

PS2: Eram outras as coisas de partir de Ana Luísa Amaral. Eram outras? Foram sempre estas também, como causa ou consequência das outras.

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