- Três coisas, Luís.
- Ok. A primeira?
- Não é um filme de adolescentes. É um filme de adultos perdidos na sua vida suburbana, middle-class, e que não conseguem comunicar com os seus filhos porque não conseguem comunicar consigo mesmos.
- Muito actual, convenhamos. A segunda?
- Alguma estereotipia nos tipos, ao modo das melhores séries americanas, algum humor corrosivo, mas final recolocado na boa psicologia dos lutos familiares e da transformação para o futuro.
- Optimismo pragmatista, está bom de ver. E a terceira?
- Uma grande cena de cinema, a poesia própria do cinema. O rapaz que se suicida deixa um rasto de dor sobretudo na mãe e num amigo. Uma noite, o amigo vai dando voltas na cama, sem conseguir dormir. E ouve, do outro lado da rua, a mãe que escava um canteiro, em actividade frenética. Ficam assim noite dentro. E os planos fundem-se fisicamente num único: a cama no jardim, a mãe do amigo escavando aos pés da cama.
- Pura poesia tarkovskiana.
- Talvez. Mas urbana. E mais psicológica que metafísica.
- Isso agora era uma grande conversa, Leitora... Mas deves ter razão. Dirias que esse plano é reabsorvido pelo final, ou subsiste para além dele como estranheza?
- É reabsorvido pelo final, sem dúvida. E por isso é psicológico e só aparentemente tarkovskiano. Mas é belo.
- Acredito no teu gosto, Leitora.
Multiplex 16
Luís Mourão
6.7.06 |
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