Nobres [actualizado]

Há uma iconografia nobre do futebol. O abraço entre Figo e Zidane, antes e depois das trocas de camisola, coloca o futebol no seu devido lugar. É um jogo no seio do destino: Portugal teve tanto azar ontem quanta a sorte que teve contra Inglaterra. A essência do drama está nisso, não quando uma equipa é esmagadoramente superior à outra. É por isso que aqueles que sabem — e os mais velhos, os nobres capitães, sabem-no — se abraçam sinceramente no fim: aquilo que foi um jogo, um dia será a nossa realidade, a morte às mãos de um destino que tem de cumprir-se. E se nesse dia estaremos sós, como é da nossa condição, os abraços antes e depois são o que de humano teremos ainda a dizer ou a recordar. E não é preciso sabê-lo assim, tão metafisicamente escrito que até parece suspeito, basta algum dia tê-lo jogado até ao limite da nossa condição física.

Actualização 1: Para o ter jogado até ao limite da nossa condição física, tanto dá o grande estádio megagaláctico como o campo do liceu ou o recreio da escola primária. A criança, como se sabe, imagina-se sempre no grande estádio. Mas a grande estrela só quer atingir mesmo essa plenitude da criança que alguma vez ganhou imaginando-se a ganhar no grande estádio. De uma outra maneira, isto está tudo no Proust. E não só.

Actualização 2: Nada a opôr à lista dos dez melhores do mundial divulgada pela FIFA. Mas aqui do meu cantinho, sempre direi que Ricardo Carvalho provou que é o melhor defesa central do mundo. E o penalti sobre Henry não é mancha nenhuma, como li de través nos jornais desportivos ali na bomba de gasolina. Qualquer outro defesa teria simplesmente ficado sentado a ver Henry passar lá muito ao longe. Ricardo Carvalho torceu-se ao cair para tentar ainda lá chegar. É verem a repetição sem olhar para a bola e os pés de Henry, mas para a cara e o tronco de Ricardo Carvalho.

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