Psicopatologia da vida quotidiana

Há os que metem ambas as mãos por dentro do saco, e agarram aos molhes até estar bem. Há os que seguram o saco numa mão e com a outra vão deitando lá para dentro a eito. Há os que põem o saco num canto e vão escolhendo quase uma a uma: rejeitam as tocadas, as mais moles, e algumas nem se sabe bem porquê, qualquer coisa na textura ou na cor que não parece elegível. Pertenço a este grupo. Com toda a fruta é assim. Mas com as cerejas o processo pode ser particularmente cómico e moroso.
Vale a pena? Para ser como uma pintura, vale. E para comer olhando através do sabor, no escuro da boca, ainda mais. Não há equivalente para a luz do sabor. Por isso se beija de olhos fechados, mas se escolhe de olhos abertos. Em princípio, claro.

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