A asserção é conhecida: não penso como você, mas morrerei pelo direito a você poder pensar diferente de mim.
Porque é que as autoridades eclesiásticas são incapazes desta afirmação, por exemplo relativamente à eutanásia ou ao aborto? Porque é que anteriormente o foram também relativamente ao divórcio?
Por mais que procure outra resposta, apenas encontro esta: é-lhes praticamente impossível reconhecer que não têm o direito de legislar sobre o todo da sociedade. Seria admitir a posição relativa das suas crenças, quando elas parecem enraizar-se na fé de um absoluto. E sobretudo, seria consumar uma efectiva separação da esfera do religioso do todo da sociedade civil, remetê-lo ao privado de um clube. A Lei do clube tem de ser a Lei da sociedade porque ontologicamente, segundo a crença do clube, o clube é primeiro por relação à sociedade. É precisa alguma desconstrução, e uma efectiva distância face à ilusão de alguns poderes demasiado humanos, para estar na religião e continuar civilmente democrático.
É legítimo esperar que as autoridades eclesiásticas mudem? Para pessoas dentro do clube, sim. A minha solidariedade para com elas. Mas para pessoas fora do clube, não é expectável nem é sensato esperar que mudem. Nunca mudaram por iniciativa própria, sempre foram obrigadas a mudar. Porque haveria agora de ser diferente? Esta luta é, mais uma vez, uma luta contra a imposição de regras religiosas ao todo da sociedade. Uma luta em que muitos crentes participam, seja a partir de um outro entendimento da religião, seja a partir de um entendimento do que é a liberdade de consciência. Mas uma luta, claramente, pelo reconhecimento da liberdade individual perante qualquer corpo doutrinário acerca do sentido último da existência. Respeito quem me pretende catequizar: com a máxima gentileza, digo que não estou interessado, e cada um segue o seu caminho. Mas resisto fortemente a quem quer pôr a polícia atrás de mim para me obrigar a viver de acordo com os princípios da sua catequese.
Piergiorgio Welby # 5: não sou eu que estou contra o exercício da vossa liberdade, mas vós que estais contra o exercício da minha liberdade
Luís Mourão
27.12.06 |
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