O que me impressiona na discussão sobre a eutanásia (e ainda mais na quase completa ausência de discussão em Portugal), é precisamente que a partir do momento em que a questão entra em agenda, a discussão se trave entre a proibição e a legalização.
Claro que este meu espanto é retórico – sei bem a mutação civilizacional que está em causa -, mas ao mesmo tempo é também inteiramente genuíno: se o nosso modo de vida ocidental e democrático se define pelas liberdades cívicas e pela possibilidade de coexistência sem atropelo de várias confissões e concepções de vida, porque é que eu hei-de morrer segundo a convicção daqueles que entendem que é moral e eticamente ilegítimo a eutanásia e o suicídio assistido, e não segundo a minha convicção, que é a de que um sofrimento terminal é inútil e desumano?
A legalização da eutanásia não obriga ninguém à eutanásia, apenas permite a coexistência efectiva e consequente das crenças sobre o fim de vida e o sentido desse final. E aqui não deixa de ser perturbador e significativo ver todas as igrejas (sobretudo as suas hierarquias), que tão acertadamente reclamam e vivem a sua liberdade de crença e culto, quererem impor a todos a sua visão de como deve ser vivido o fim de uma vida.
O sentido de discutir a eutanásia devia ser o de discutir todas as salvaguardas necessárias para apurar a efectiva vontade de cada um. O resto devia ser um dado adquirido da liberdade individual.
Piergiorgio Welby # 2: a questão da eutanásia
Luís Mourão
25.12.06 |
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