Quando for grande quero ser um verdadeiro politécnico (e calma, que tão cedo não volto a tocar no assunto...)

É um simples exercício de faz-de-conta, claro. Mas o que Miguel Vale de Almeida faria ao Ensino Superior, se mandasse, contém alguns dos paradoxos com que esse mesmo ensino, entre nós, se tem deparado. Isso não me impede de concordar com 1, 2, 3, 5, 6 e 9. Os outros levantam-me dúvidas várias.
Por exemplo, o ponto 4: “Transformava os politécnicos em verdadeiros... politécnicos”. Óptimo. Assim dito, até parece que os politécnicos têm uma essência e que em Portugal se desviaram dela. Mas a gente olha para França e eles são uma coisa, espreita a Finlândia e são outra, e lembra-se da Inglaterra (onde há pouco deixaram de existir) e são outra ainda. Por cá, têm-se tentando estabelecer diferenças na legislação e é aquele nominalismo bacoco que se sabe. E na prática, anda tudo à mistura.
O que é mais curioso é que nem as universidades, nem os politécnicos, nem os ministros querem acabar com a distinção. Só que a entendem cada um à sua maneira, que aliás raramente explicam qual seja, mas percebe-se que têm de ser diferentes porque todos dizem — outra curiosidade... — que o politécnico deve ser transformado em verdadeiro politécnico, mas as consequências que daí extraem são diametralmente opostas.
As universidades clamam que os politécnicos se devem manter como verdadeiros politécnicos, e contudo não me lembro de ver qualquer documento do CRUP que diga quais são os cursos estritamente politécnicos, o que li é que todos os cursos podem ser dados pelas universidades, e alguns desses também pelos politécnicos. Mas os politécnicos fazem praticamente a mesma coisa, dizem que todos os cursos profissionalizantes deviam ser politécnicos, aí incluindo medicina e arquitectura, por exemplo, e que isso só não é aceite porque entre nós o politécnico nasceu como ensino de segunda, destinado a desenvolver o interior. O ministério e assembleia da república produzem legislação cheia de distingos subtis, mas preto-no-branco ninguém diz o que pode fazer um e fazer o outro. Parece que anda tudo preocupado com descobrir a essência da coisa, da uma e da outra, o que só pode ter como consequência uma discussão mais longa do que a do sexo dos anjos. Será demais pedir uma decisão política (e por isso performativa)? Qualquer coisa simples que diga: precisamos (ou não) dos dois sub-sistemas, porque queremos que um faça isto e outro aquilo. É assim tão complicado?

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