A obra de Maria Gabriela Llansol marca um trajecto singular na literatura portuguesa contemporânea, pela forma consistente e intransigente como tem procurado novos caminhos para a escrita do romance.
Como sempre na sua obra, o vivido comparece sem os traços vulgares dos decalques realistas. O que a sua escrita visa não é a restituição de um real reconhecível na sua legibilidade imediata, a falsidade de um conhecimento de apropriação, mas o encontro do fulgor que cada ser ou situação comporta, aquilo que o vivo tem como potência de sentido e que é a tarefa e a responsabilidade de existirmos.
Amigo e Amiga. Curso de silêncio de 2004 é um romance particularmente exigente face a esta responsabilidade, pois que parte do confronto com “O Golpe”, que é sempre a inscrição da morte no nosso existir. Sem qualquer pathos sentimental ou ilusão de transcendência, Amigo e Amiga cria a vida pós-dor. As suas múltiplas figuras, algumas vindas de romances anteriores, constroem a aliança entre o que perdura, o que muda subitamente de sentido e o que emerge para a restante vida. A todas acolhe o silêncio, aquilo que preserva o texto e o existir da banalidade sufocante, aquilo que reconduz a ética da literatura — ou de qualquer outra tarefa — ao seu lugar de invenção de uma realidade que se mede apenas pela capacidade de devirmos dentro dela aquilo que de nós próprios desconhecíamos.
Grande Prémio de Novela e Romance APE/IPLB 2006
Luís Mourão
28.5.07 |
0 Comments
|
This entry was posted on 28.5.07
You can follow any responses to this entry through
the RSS 2.0 feed.
You can leave a response,
or trackback from your own site.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
0 comentários:
Enviar um comentário