Eu disse a natureza na sua vitória mortal sobre a cultura? Mas nunca o saberemos. Ou melhor, começamos a saber outra coisa: que a vitória mortal é a de uma natureza que assimilou e se transformou a partir da nossa cultura (o clima, ao que tudo indica, será um bom exemplo disso). Paradoxo terminal, como Kundera lhe poderia chamar. Nunca tendo ganho tanto à natureza como agora, ao longo dessa vitória a cultura foi dando à natureza as armas necessárias ao volte-face. Poderia aqui haver uma história metafísica. A história que dissesse que a cultura forneceu à natureza a arma e a indicação de lugar e tempo para que a natureza procedesse à liquidação da cultura. Uma espécie de suicídio por interposta pessoa. Uma história metafísica que desdobra em si outra história metafísica: a de que a cultura, procedendo assim, nada mais fez do que seguir ab initio os ditames da natureza. Mas as histórias metafísicas têm uma tendência irreprimível para a desproporção, como aquele lorde ocioso que queria matar melgas a tiros de caçadeira. Melhor seria falarmos da estupidez humana. Isto é, lucro, predação, a parafernália toda. E contudo. Sim? E contudo, às vezes penso, como poderia existir um ser tão sem sentido como nós se não contivesse em si mesmo os germes da sua destruição? Esta seria a história natural de um pequeno equívoco sem importância nenhuma. E contudo não te matas. Ainda é cedo, tem lá calma, ok?
Carbono 14 # variação a preto e branco (adenda)
Luís Mourão
12.8.07 |
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