Carbono 14

Miguel Palma, Carbono 14 (1998)

É um estranho arado moendo sempre o mesmo círculo: com um pente revolve, com uma pá rectangular repõe e alisa. Areia terrrosa é tudo o que existe à superfície desse território deserto. Isso e a estranha máquina impessoal. Soterrados debaixo de camadas várias, partes do mundo tal qual o habitamos hoje. O nosso presente oferecido à datação dos milénios futuros, com a imprecisão característica das grandes idades e a indiferença por todo o particularismo que em definitivo já lá não está. As casas e os carros são meras estruturas vazias, sobreviventes maquínicos de utilidades idas. Não há vestígios dos nossos corpos, nem enquanto cadáveres. À distancia desta imaginação projectiva já não somos sequer paixão inútil, apenas inexistência sem rasto ou sobressalto. Ite, mundus est.

Miguel Palma na Culturgest até 2 de Setembro

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