O silêncio dos livros: nota 3 [já não Steiner, mas Michel Crépu]
Luís Mourão
22.8.07 |
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"Em Providence, Massachusetts, ainda podemos ver, nas margens da lagoa de Walden, a cabana onde Thoreau viveu durante dois anos e dois meses; é verdade, Thoreau procurou ali uma arte de viver imediata, sabendo que não podia contar senão com a eficácia dos gestos quotidianos; mas de nada saberíamos se Thoreau não tivesse extraído dessa experiência um livro magnífico. A verdade de Walden ou a A vida nos bosques é o regresso à cidade e a necessidade de retirar daí uma conclusão escrita." (Michel Crépu, p. 63)
Seria diferente se Thoreau tivesse permanecido nos bosques? Aliás, para a maioria dos que o leram, não continua Thoreau nos bosques? Toda a força da escrita reside em atirar-nos para a realidade. E todo o problema da escrita é que a realidade para a qual nos atira não está afinal lá. Está outra coisa, apenas visível na condição de nos irmos esquecendo da escrita que nos levou até lá. Há vida nos bosques quando já nos esquecemos até de que aquilo são bosques. Mas tivemos de o saber no princípio, ou nunca lá teríamos chegado.
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