Na iconografia do escritor, o cigarro foi o único elemento que emprestou acção a uma figura quase sempre hierática, em que tudo era suposto passar-se no interior. Desde logo porque fumar dava forma visível a essa angústia do interior. Depois, e ainda que não tenha começado assim, porque era claramente um elemento cinemático: o escritor fumava como os grandes heróis do cinema americano de acção fumavam. Finalmente, porque trazia a masculinidade para a boca de cena: esse falo que se consumia em volutas sinalizava a demiurgia do masculino, uma demiurgia que podia bem prescindir de dar-se a conhecer em livro, porque toda ela se bastava como ícone. O escritor com cigarro, sendo pela primeira vez um homem de acção, foi também pela primeira vez o completo agente passivo de um símbolo que o subsumiu como género sexual. O cigarro do escritor foi o análogo das mamas das sex symbol na identificação de género .
Rostos # 4
Luís Mourão
9.8.07 |
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