[depois do fim, 20: lição da erva daninha]

A erva daninha é a Nemésis dos esforços humanos. De todas as existências imaginárias que atribuímos às plantas, aos animais e às estrelas, é talvez a erva daninha que leva a vida mais inteligente. É verdade que a erva nem sequer produz flores, nem porta-aviões, nem Sermões na montanha. (...) Mas, ao fim e ao cabo, é sempre a erva que tem a última palavra. (...) A erva só existe entre os grandes espaços não cultivados. Preenche os vazios. Cresce entre, e no meio das outras coisas. A flor é bela, a couve é útil, a papoila faz enlouquecer. Mas a erva é profusão, é uma lição de moral.
Henry Miller, Hamlet, citado por Deleuze e Guattari, Rizoma, Assírio & Alvim, p. 46

Lição de moral? Sim. Esta: deixar espaços por cultivar em atenção da erva daninha. Fácil? Questão de preguiça? Bem pelo contrário: questão de rigorosa disciplina de despossessão.

0 comentários: