De acordo no essencial, Rui Bebiano: a liberdade de expressão e discussão em qualquer matéria não pode estar em causa. Mas já não relegaria a intervenção “pouca diplomática” do Papa para uma nota de rodapé. O Papa não é um obscuro e desajeitado cartoonista, etc. Mas sobretudo, não leria desse modo o Corão, nem qualquer outro texto de uma religião monoteísta milenar.
Deixe-me pôr as coisas deste modo. Parto do princípio de que nenhum de nós é crente. Como não crente (mas há crentes que também lêem assim), leio todos os textos das religiões monoteístas como um interminável combate entre quem é “nós” e quem são os “outros”, entre as regras do amor que definem o “nós” e o tipo de guerra que se deve mover aos “outros” pelo simples facto de que a sua mera existência relativiza o absoluto do “nós”. Os termos deste combate não estão encerrados nem na literalidade do texto nem na sua exegese filológica ou historicista, mas na interpretação contínua com que a comunidade dos crentes se vai apropriando deles. Numa palavra, no seu uso. Nesse sentido, acho que pouco adianta citar directamente do Corão para mostrar preto no branco a brutalidade com que se persegue os outros. Ela está lá, como está em todos os outros textos, sob outras formas. O interessante, e estratégica e politicamente mais relevante, penso que seria procurar alguns usos em que o aparente sentido literal destes textos é reconstruído numa vivência que está conforme à defesa que fazemos das liberdades fundamentais. Ou seja, procurar apoio na exegese daqueles a quem chamamos os moderados árabes. Com outra estratégia, corre-se perigo de guerra religiosa. E as guerras religiosas, como qualquer outra guerra, podem ser ganhas, mas o seu preço é particularmente alto. Claro que nada disto põe em causa que nos mantenhamos firmes na defesa do essencial — isso que permite que estas palavras existam aqui e agora.
Deixe-me pôr as coisas deste modo. Parto do princípio de que nenhum de nós é crente. Como não crente (mas há crentes que também lêem assim), leio todos os textos das religiões monoteístas como um interminável combate entre quem é “nós” e quem são os “outros”, entre as regras do amor que definem o “nós” e o tipo de guerra que se deve mover aos “outros” pelo simples facto de que a sua mera existência relativiza o absoluto do “nós”. Os termos deste combate não estão encerrados nem na literalidade do texto nem na sua exegese filológica ou historicista, mas na interpretação contínua com que a comunidade dos crentes se vai apropriando deles. Numa palavra, no seu uso. Nesse sentido, acho que pouco adianta citar directamente do Corão para mostrar preto no branco a brutalidade com que se persegue os outros. Ela está lá, como está em todos os outros textos, sob outras formas. O interessante, e estratégica e politicamente mais relevante, penso que seria procurar alguns usos em que o aparente sentido literal destes textos é reconstruído numa vivência que está conforme à defesa que fazemos das liberdades fundamentais. Ou seja, procurar apoio na exegese daqueles a quem chamamos os moderados árabes. Com outra estratégia, corre-se perigo de guerra religiosa. E as guerras religiosas, como qualquer outra guerra, podem ser ganhas, mas o seu preço é particularmente alto. Claro que nada disto põe em causa que nos mantenhamos firmes na defesa do essencial — isso que permite que estas palavras existam aqui e agora.
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