Ensino Superior, prós e contras

1. Resumo político: Mariano Gago “pediu” mais um ano para as mexidas necessárias no Ensino Superior quanto à definição da rede, lei da autonomia e estatuto da carreira docente. Agora que os estudos vão ficar prontos, será a fase de extrair as consequências políticas. Seja. Não se pode acusá-lo de incoerência nem de não aplicar às suas decisões os passos metodológicos que exige para todo o conhecimento científico. A ver.

2. À atenção dos nossos liberais: aquela cena dos gráficos do eurostat. Com o Ensino Superior, Portugal gasta umas centésimas mais do seu PIB do que a Espanha. Mas como o PIB português é o que se sabe, o resultado bruto é que a Espanha gasta, por cada aluno no Ensino Superior, o dobro do que gasta Portugal. Na hora da prestação de contas, alguém se devia lembrar disto: que se fazem omeletas com menos ovos, isso é verdade, mas não se pode exigir que saibam exactamente como as outras. E na hora de falar da captação das verbas, idem aspas: se o PIB é o que é, onde é que se vai captar o quê? Para já não falar que o PIB é uma média, e que portanto há instituições de ensino superior em regiões que estão muito abaixo da média, e que há cursos que, pela sua natureza, pouco têm a vender à comunidade.

3. O double-bind das palavras mágicas. Competitividade, empreendedorismo, captação de verbas. Quer dizer, universidades contra universidades, numa luta leal etc etc. Sobredimensionação da rede, necessidade de clusterização, especialização. Quer dizer, universidades a negociar com universidades quem fica com o quê, quem vai até onde, e quem nem fica nem vai. Ser jogador e árbitro ao mesmo tempo parece-me um bocado complicado. Até porque há um governo eleito, não há?

4. Representações simbólicas. Na terminologia “da Fátima”, os Senhores Reitores estavam todos na primeira fila. E o Senhor Presidente do CRUP e o Senhor Reitor Sampaio da Nóvoa, na mesa. E os estudantes, todos representantes das Universidades. Depois havia um representante do Ensino Superior Privado, alguns Reitores privados e ainda o Senhor Presidente do CCISP, que “a Fátima” introduziu como equivalente ao Senhor Presidente do CRUP — vê-se logo a equivalência, claro... Mariano Gago disse que uma das perguntas a que o relatório da OCDE devia responder era se estava claro o papel dos dois subsistemas. Socialmente, está mais que claro: o Politécnico é, e entre nós não se vê como alguma vez deixará de ser, um liceu avançado. Não era melhor acabar com isso e passar tudo para as universidades? Há alguma coisa que as Universidades não façam já ou não possam vir a fazer em rigorosa e lógica extensão daquilo que já fazem? O primeiro ciclo de formação não resolve agora aquilo para que os Politécnicos alegadamente foram criados?

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