Para a conversa com Lídia Jorge e José Eduardo Agualusa, o anfiteatro quase encheu. Sobretudo estudantes. Não fizeram perguntas — quando me pareceu que estavam a ficar desinibidos, o tempo esgotou-se — mas ouviram atentos. Não houve saídas a meio nem bocejos incontroláveis. Claro que a presença em pessoa dos autores faz parte do star system, etc e tal. Mas é também uma terapia importante de dessacralização da literatura e dos autores. Ou melhor dito — porque isto de sacralizar tem muitas voltas, que vão do Saramago ao Figo —, é uma terapia importante de desclassicização da literatura (ok, o termo é complicado, depois penso noutro). Trazê-la do pedestal onde por vezes se imagina (e onde esteve no século XIX e princípios do século XX como arte dominante) para a companhia terrestre das outras artes, desde a música pop ao cinema. Quem escreve é de carne e osso. E mais vale que quem é de carne e osso se mostre, dando a ver a distância a que fica do papel. Em todas as artes, quem é bom, é só isso que faz quando vem a público como pessoa: mostrar a distância a que fica da arte que lhe calhou em sorte. O público agradece e predispõe-se a percorrer essa distância: se o autor sobreviveu, está bem e recomenda-se, porque não experimentar um pouco daquilo?
O Poder das Narrativas / As Narrativas do Poder # 5
Luís Mourão
25.11.06 |
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