Um pouco da inútil realidade, a epifania segue dentro de momentos # 3

Voltando à nova terminologia linguística para os ensinos básico e secundário, vulgo TLEBS. Vê-se a léguas que a coisa deriva desse complexo de cientificidade que em tempos não muitos recuados assaltou os estudos literários e foi responsável pelos delírios formalistas e semióticos. O que é engraçado é que quem quer que alguma vez tenha tido na mão um protocolo de experiência científica a ser conduzida em laboratório, dessas experiências em que um pouco mais disto ou daquilo, para além de deitar por terra todo um trabalho em sequência, pode de facto dar origem àquelas explosões que associamos aos cientistas loucos — pois quem quer que tenha visto um protocolo desses e não seja da área, só pode ter ficado surpreendido pela sua extrema clareza e simplicidade.
Eu acho que o equivalente disso, dessa clareza e simplicidade, para o que ao ensino básico e secundário diz respeito, seria manter a terminologia clássica: para as funcionalidades que se desejam, chega e sobra. Mas a história das disciplinas é feita também da sua aproximação à área do poder e da visibilidade simbólica que adquirem, e tudo indica que tenha chegado a hora dos linguistas. Bem sei: não de todos os linguistas, nunca é de todos, mas precisamente daqueles que estão em condições de falar em nome de todos.
A questão, sobre ser científica, é pois também política. E é aqui que me parece que a intervenção de Vasco Graça Moura, tão elogiada, acaba por ser contraproducente para a causa anti-TLEBS. Vasco Graça Moura não argumenta cientificamente, remete para os argumentos de outros. Os argumentos não ficam invalidados por isso, é claro, mas o artigo de VGM coloca-se já na plataforma do xiste político, visando claramente o ministério. Ora, eu penso que VGM deve ter plena consciência de que o seu tom político raramente visa senão a erradicação pura e simples do adversário. Neste artigo, o tom até é relativamente comedido, mas a fama do articulista acrescenta-lhe o fel que de facto lhe falta. O que naturalmente será entendido pelos adversários como uma razão acrescida para o enquistar das suas posições. Se VGM quisesse de facto combater a TLEBS, ou visse nesse combate um imperativo maior do que esgrimir politicamente contra o ministério, saberia com quem falar ou a quem pedir que falasse sem correr riscos de má ou de sobre-interpretação política. Não é o ideal em termos democráticos? Seguramente que não. Mas há que saber viver com isso. Ou estarei enganado?

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