Depois de infinitamente rodar no carro e em casa e no jogging. Depois de já me ter esquecido dele, mas só um pouco, contudo o suficiente. Depois de muitos dias e muitas noites e outra vez dias. Ressurge de súbito no carro, exactamente no momento em que o relâmpago atingiu a árvore, o carro da frente guinou para a outra faixa e eu me encostei à berma, bem ao lado da cicatriz negra e fumegante, respirando fundo pelo milagre de ninguém vir em sentido contrário nem atrás de mim, ouvindo fundo o carro da frente que voltou à sua faixa quase sem abrandar, como se tudo tivesse sido normal, normal eu também e o carro lento seguindo viagem, apenas a cicatriz negra da árvore e a música, a música e aquele homem atravessando a estrada no retrovisor, nítido ampliado, o carro deslizando curva lenta à direita e o chapéu com a sua sombra sobre o rosto, retiro os olhos do retrovisor para que o homem passe, mas como? como?, não importa, olhar em frente, há-de vir um outro relâmpago, não te assustes, estás perto, o fim de tarde e a música, estás perto.
A Leitora, no seu infinito particular (XXIX)
Luís Mourão
27.11.06 |
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