Ibsen segundo Savinio e volta: conjugação de astros

"A evolução, na obra de Ibsen, segue esta redução constante: da rebelião de um povo (norueguês) à rebelião da sociedade; da rebelião da sociedade à rebelião do homem (entendido no sentido alemão de Mensch, isto é, homem e mulher); da rebelião de Mensch à rebelião «pessoal» da mulher. É como uma passagem do macrocosmo para o microcosmo. (...)
Ibsen, num primeiro momento, pensou que estava destinado a salvar o mundo, num segundo tempo que estava destinado a salvar a sociedade, num terceiro a salvar o homem, num quarto pensou que estava destinado a salvar a mulher... Aqui, pela primeira vez, a missão salvadora deste salvador encontrou terreno fértil e criou raízes. De todos os eleitos da salvação: mundo, sociedade, homem, mulher, só a mulher tinha a necessidade efectiva, urgente, orgânica, de ser salva; e não só a necessidade de ser salva; a mulher «desejava» ser salva e, facto ainda mais importante, condição ainda mais favorável, a mulher estava a contribuir, ela própria, para a sua salvação; por isso, a «missão» de Ibsen, como de resto qualquer «missão», chegou em boa altura e trouxe glória ao salvador, sobretudo por esta razão — porque, por felicidade, ele estava presente, oficiante e «predicante», numa operação que se teria realizado igualmente, mesmo sem a sua intervenção e obra."
Alberto Savinio, Vida de Henrik Ibsen

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