Multiplex 13
Luís Mourão
13.6.06 |
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- Conhecia estes lisboetas, Leitora?
- Só das notícias, e pouco. O que mais me impressionou foi perceber que afinal passava por eles todos os dias e não os via. Politicamente, até acho grave esta minha cegueira. No resto, é um documentário que cruza histórias, e uma cidade é sempre isso, um cruzamento de histórias que nós nem fazemos ideia que existem.
- A mim impressionou-me logo o início, o rosto incrédulo daquele jovem negro quando percebe que tem de voltar aos serviços com mais uns papeis. Aposto que não lhe disseram nada da primeira vez, e que quando voltar faltará ainda outra coisa, e por aí fora.
- A mim impressionou-me a seguir o mercado de trabalho clandestino, os emigrantes à espera, os capatazes que vêm, quanto pagas? quanto queres? o jogo do gato e do rato, primeiro eu vejo como trabalhas, depois digo um preço, se queres queres, se não largas.
- E depois a poesia, os miúdos na água da fonte.
- E o coração do mundo, Luís, o coração do mundo.
- Que coração do mundo? As crianças?
- Não. A ambulância dos médicos do mundo, aquela enfermeira negra que trata o pé do ucraniano, e que para a ficha lhe pergunta: há quanto tempo estás aqui, em Angola?
- Ah, isso... A voz tremeu-lhe quando deu pelo lapso, ou ouvi mal?
- Ouviste bem. E ela disse certo. Em muitas coisas, Lisboa, como muitas cidades, é Angola ou ainda pior.
- Mas aqui reivindica-se que todos são lisboetas, é um avanço.
- É um desejo, um pouco de realidade, e trabalho para uma maior realidade.
- Ou seja, é também cinema.
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