Sentimentais

Sexta à noite é dia de piscina. Muitas vezes entramos e o funcionário está a ouvir futebol na rádio, saímos e vamos ainda a tempo de saber como ficou o jogo. Ontem, ouvia o Angola-México. Espera, Angola-México na rádio portuguesa? Isso mesmo, e com um tremendo torcer por Angola, assim como se fôssemos nós. À saída, vesti-me ouvindo em directo os últimos cinco minutos, vesti-me de modo a durar os cinco minutos. Alegria geral com o empate, o primeiro ponto de Angola no seu primeiro mundial. Remorso do homem branco? Nunca tive uma quinta em África, nunca vivi em África, sei da história o suficiente para me distanciar de paraísos perdidos e de remorsos inúteis e ademais paternalistas. Mas África fascina-me, e por certo irei lá mais vezes. E em alguns países há um ar de família em tudo, como quando acompanhava os meus pais aos seus Trás-os-Montes e me iam dizendo que aqui brincaram não sei a quê, e ali aprenderam a nadar, e acolá era a escola e houve uma D. Não Sei Quantos (mas que merecia que eu soubesse o nome) que recomendou o meu pai para o seminário. Nada é tão estranho como a infância de quem sempre conhecemos adultos. Isto é, tão estranhamente familiar. Tão retroactivamente nosso. Fica-se sentimental na exacta medida em que, de alguma maneira, comungamos dos sentimentos de quem o viveu. E assim de repente não vejo nenhum mal nisso.

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